quarta-feira, 17 de julho de 2013

NO SHEPHEARD'S

«Ao sair das ruas estreitas e ruidosas onde se movem aquelas imagens do velho mundo árabe, entramos no Shepheard's Hotel


São sete horas da noite. O gás flameja no largo corredor lajeado; os espelhos cintilam: os drogmen circulam. Um árabe percorre os corredores, batendo numa larga placa de metal, como para o anúncio de um velho rito. Aquele som velado, doce e penetrante, espalha-se num eixo esbatido pelas largas salas. É o jantar.

A imensa sala, adornada de colunas, está cheia de luz; os cristais faiscam; os árabes, os escravos núbios, os criados franceses, servem apressadamente.


 Àquelas mesas estreitas senta-se um mundo bem diferente daquele que se move vagarosamente pelas ruas do Cairo: aqui é o nosso mundo, europeu, civilizado, sábio, filosófico, egoísta e rico. São embaixadores, poetas, engenheiros, lorettes, caricaturistas, pintores, fotógrafos, burgueses, dandies, lords, jornalistas, críticos e agiotas.


O rumor das palavras tem uma tonalidade alegre. Não há o silêncio árabe, fala-se, critica-se, negocia-se, intriga-se, discute-se.
Os sentimentos aparecem sob os gestos polidos: mente-se, contesta-se, e o homem revela-se.»





(em O Egipto, notas de viagem (1869)