domingo, 25 de maio de 2014

AS ELEIÇÕES E A IMPRENSA


«As eleições foram daí a três semanas.  O Ministério teve uma Maioria compacta, sólida, homogénea.  Os jornais da Oposição afirmaram - que como corrupção, tricas, violências, peitas, influências obscenas, estas eleições não só seguiam a tradição obsoleta dos Cabrais, mas ofereciam, a evidência  dolorosa da decadência social.  O Estandarte disse - «é, imenso como torpeza: nós aplaudimos; porque um ministério, que assim procede, inspira ipso facto um nojo genérico; este governo não há-de cair, porque não é um edifício: hão-de tirá-lo com benzina, porque é uma nódoa.»
            O Progresso Social afirmou: «somos o escárnio da Europa!»
            A Nacionalidade disse, com chiste: «é averiguado que a maior parte das urnas
tinha fundos falsos; nada admira o expediente, vindo dum ministério de pelotiqueiros» - aludindo malignamente, ao Ministro das Obras Públicas, cuja perícia, em fazer habilidades com cartas era geralmente estimada, e muito apreciada na Corte.
            Mas o Globo, jornal do Governo teve uma «saída» resplandecente: «O Estandarte, jornal dos Bexigosos, escreve, no seu artigo de ontem: “o Governo não há-de cair porque não é um edifício, hão-de tirá-lo com benzina porque é uma nódoa.”  Este plagiato é torpe: aquela frase foi escrita por nós, ipsis verbis, no n.º 1214 deste jornal, quando os Bexigosos, elegeram a Câmara passada!»

            Ambos os partidos se consideravam reciprocamente uma nódoa - e se ameaçavam com benzina!  Ah!  Quando se compenetrará a imprensa da elevação do Sacerdócio?» in O Conde de Abranhos, 1879.

LANÇAMENTO DA EDIÇÃO CRÍTICA DE «A CORRESPONDÊNCIA DE FRADIQUE MENDES»


Intervenção do Prof. Carlos Reis durante o lançamento da Edição Crítica de «A correspondência de Fradique Mendes» na Biblioteca Nacional em 21 de Maio de 2014.

sábado, 8 de março de 2014

«A Morte do Diabo» Apresentação na Biblioteca Nacional


Apresentação de «A Morte do Diabo - fragmentos de uma opereta» inédito com libreto de Eça de Queirós e Jaime Batalha Reis e música de Augusto Machado.

sexta-feira, 7 de março de 2014

TELEFONE

(A rainha Victoria experimentando o telefone em 1878)


«Começa a falar-se, com seriedade e espanto, numa nova descoberta americana, o telefone: é um telégrafo para a transmissão do som. Esta ideia, que nasceu em 1861, tem tido um progresso tão fecundo que há dois meses já se apresentaram perante as provas públicas dois sistemas rivais. O mais perfeito, parece. é o do Dr. Bell. O seu aparelho, que tem a aparência de um sistema telegráfico e um princípio electromagnético, transmitiu sons, numa última experiência, feita a cento e quarenta e três milhas; não só o som da voz chega perfeitamente claro, mas distinguem-se as inflexões mais leves. A experiência foi realizada em Boston e Conway, e àquela forte distância distinguia-se uma rabeca de um violoncelo; o rumor, as conversações, as risadas das pessoas que estavam junto do aparelho em Boston eram ouvidas em Conway com a distinta e exacta nitidez com que se ouve numa torrinha o que se canta no palco. Calcula-se que se poderá fazer chegar o som a transatlânticas distancias. Em Filadélfia organiza-se um concerto experimental, em que o público estará a cinquenta milhas dos artistas.» (in Cartas de Londres, 1877)

sábado, 1 de março de 2014

CARNAVAL - O BAILE DE MÁSCARAS


O salão estava cheio, abafado, de um calor morno que parecia feito de exalações de suor. A luz crua dos lustres de gás feria as cores claras e duras das paredes, da decoração, e ressaltava, fazendo flutuar uma radiação quase espessa. No estrado, o regente agitava furiosamente a batuta, impelindo as vagas estridentes de uma instrumentação grosseira — e uma multidão de paletots, de chapéus altos, de dorsos curvados numa curiosidade sôfrega, concentrava-se em volta do can-can. Artur, excitado, penetrou por entre a massa de gente e esganiçando o pescoço, em bicos de pés, conseguiu ver as francesas: eram quatro e destacavam-se pelos cabelos loiros cor de manteiga; uma delas, baixinha, roliça, vestida de marinheiro, com o chapéu de oleado para a nuca, o pescoço papudo à mostra, os quadris enormes apertados a estalar numa calça branca, saracoteava-se com movimentos que lhe faziam saltar os seios flácidos na camisola azul; outra, leve, esguia, endemoninhada, vestida à húngara, pulava com grandes gestos de magricela, batendo furiosamente o soalho com os altos tacões das botas orladas de peles; uma terceira que estava mascarada de vivandeira, parecia pesada, velha, meneando-se por dever, gravemente; mas a mais admirada era uma bacante, uma grande loira de formas soberbas, que punha nos olhos em redor um vago brilho de concupiscência burguesa. Trabalhavam em fila, numa quadrilha, com quatro mariolas — um pierrot que parecia desengonçado; um chicard que fazia flutuar as abas enormes da casaca grotesca, apanhando-as com gestos torpes, lançando-as para o enorme nariz de papelão com dois tufos de estopa loira sob as ventas; um homenzinho roliço, com um capacete de bombeiro de onde subia um longo penacho escarlate; e o último, um amador português, que trazia um dominó de paninho, e já sem fôlego, debatendo-se como doido, com o capuz caído, mostrava uma guedelha suja, toda empastada de transpiração. Em redor gozava-se. Havia nos rostos uma dilatação lúbrica, hílare, e bravos estalavam às pernadas mais arremessadas.
(A Capital, 1879)