quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Idealismo e Naturalismo



«Ora aqui tens, meu caro concidadão: supõe que tu queres ter na tua sala a imagem de Napoleão I passando os Alpes (estas fantasias são-te permitidas  a parede é tua, e podes cobri-la de escarros ou de figuras imperiais  são cousas que ficam com a tua consciência e com o Deus severo que te -de julgar um dia).  Que fazes tu?  Chamas dois pintores: um que é idealista e que vem com a sua grenha, o seu casaco de veludo e o seu chapéu de aba larga, e outro que é Realista, e que vem, como tu, de chapéu alto, com a sua caixa de tintas debaixo do braço.  Dás-lhes o teu assunto e vais aos teus negócios.
            E aqui está o que se passa na tua ausência sobre a tua parede:
            O pintor idealista arregaça as mangas e brocha-te imediatamente este quadro: um píncaro de montanha; sobre este píncaro um cavalo com as proporções heróicas do cavalo de Fidias, empinado; sobre esse cavalo  premindo-lhe as ilhargas, Napoleão, de braços e pernas nuas, como um César Romano, com uma coroa de loiros na cabeça.  Em volta, nuvens; em baixo, a assinatura.
            Dir-me-hão: é falso! – Como, falso?  Este quadro foi, creio que é ainda, uma das jóias do museu do Luxemburgo.
            Durante esse tempo, o pintor realista, tendo lido a historia, consultado as cronicas do tempo, estudado as paisagens dos Alpes, os uniformes da época  etc., deixou na tua parede o seguinte quadro: sob um céu triste, um caminho escabroso de serra; por ele  resfolegando e retesando os músculos  sobe uma mula; sobre a mula, Bonaparte, abafado em peles  com um barrete de lontra e óculos azuis por causa de reverberação da neve, viaja, doente e derreado...

            Qual destes quadros escolhes tu, caro concidadão? O primeiro, que te inventou a historia ou o segundo, que ta pintou? O idealista deu-te uma falsificação, o naturalista, uma verificação.  Toda a diferença entre o Idealismo e o Naturalismo está nisto.  O primeiro falsifica, o segundo verifica.» (em «Idealismo e Realismo», 1879)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

As Agulhas de Cleópatra


«Assim, ao outro dia, fomos também ver, conscienciosamente, as Agulhas de Cleópatra. Encontrámo-las numa horta cercada duma fileira de casas: uma, está de pé, nítida, de granito rosado; as outras jazem, deitadas no chão: em redor, crescem legumes. Aproximei-me, e depois de as ver e de me compenetrar de que tinham pertencido ao templo de Heliópolis, e de que haviam sido trazidas para Alexandria para serem colocadas dentro dum templo dedicado a Ceres, voltei os olhos e bocejei...

Oh!, querida Alexandria, cidade de Cleópatra, de Amru e dos padres da Igreja, como tu nos foste fastidiosa e pesada!» (In «O Egipto – notas de viagem», 1869)