«Do lado oposto aos molhes, para além da cidade, tinham-se construido três pavilhões, estrados tapetados e brasonados, sobre a areia húmida da espuma do mar. Era nesse lugar a celebração religiosa: os ulemas e os padres cristãos deviam abençoar e consagrar nos seus ritos o canal de Suez. Um grande cortejo de convidados, precedidos dos princípes, entre os quais sobressaía a pensativa e bela figura de Abd el-Dader, dirigiu-se para esse lugar, entre duas fileiras de soldados egípcios, de arcos, de bandeiras, e de árabes que abriam grandes olhos.» («De Port Said a Suez», Diário de Notícias, 1870)
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Inauguração do Canal do Suez
«Mas naquele dia 17, da inauguração, Port Said, cheio de gente, coberto de bandeiras, todo ruidoso dos canhões e dos hurras da marinhagem, tendo no seu porto as esquadras da Europa, cheio de flâmulas, de arcos, de flores, de músicas, de cafés improvisados, de barracas de acampamento, de uniformes, tinha um belo e poderoso aspecto de vida. A baía de Port Said estava triunfante. Era o primeiro dia das festas. Estavam ali as esquadras francesas do Levante, a esquadra italiana, os navios suecos, holandeses, alemães e russos, os yatchs dos princípes, os vapores egípcios, a frota do paxá, as fragatas espanholas, a «Aigle» com a imperatriz [Eugénia de Montijo], o «Mamoudeb» com o quediva, e navios com todas as amostras de realeza, desde o imperador cristianíssimo Francisco José, até ao caide árabe Abd el-Kader» (em «De Port Said a Suez», Diário de Notícias, 1870)
quarta-feira, 22 de maio de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
O Grupo dos cinco Sábios fotografados no Palácio de Cristal, Porto
Eça de Queirós, Oliveira Martins, Antero de Quental,
Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro
No Outono de 1884 Eça de Queirós esteve na praia da Granja com a família da Condessa de Resende. Ali perdeu ao bilhar, com uma banhista - segundo a tradição, D. Emília de Castro Resende, sua futura mulher a aposta de um leque de cetim cor de ouro, ornado de uma aguarela representando um grupo de cinco cães. Segundo Ramalho Ortigão «Uma das condições da aposta era que o leque seria escrito pelos amigos com que Eça de Queirós tinha de vir almoçar ao Porto». No almoço, que teve lugar no Palácio de Cristal, os cinco «sábios», como lhes chamou D. Emília, fizeram-se fotografar e autografaram o leque assumindo as suas frases como sendo Latidos:
«Quem muito ladra pouco aprende» - Antero de Quental
«Escritor que ladra não morde» - Oliveira Martins
«Dentada de crítico cura-se com pêlo do mesmo crítico« - Ramalho Ortigão
«Cão lírico ladra à lua; cão filósofo abocanha o melhor osso» - Eça de Queirós
«Cão de letras - Chachorro!» - Guerra Junqueiro
Envoi
«São cinco cães, sentinelas
De bronze e papel almaço,
De bronze para as canelas,
De papel para o regaço»
Assinado «A matilha»
(Em A Ilustração, 20 de Set. 1885; publicado por Irene Fialho, Almanaques e outros dispersos, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011)
domingo, 19 de maio de 2013
Eça Poeta
Rigolboche, a dançarina de Cancan
Tu serás esqueleto e podridão
Ó Branca, a Rigolboche
Ó Branca, a Rigolboche
Exala as febres e infecção,
Oh flor vil do deboche.
Hoje tens pedrarias
e vernizes,
És brancura de cama
Pois serás pasto a vermes e raízes
Sujo lírio da lama.
Hoje és luz e cristal opala e sereia
E branca flor de carne
Pois serás podre suja infecta e feia
E da vil cor do marme.
Repara bem no pó que tu pisares
Nas corridas d’Epson
Tal tu serás cetim dos boulevards
Ó Vénus Benoiton
Hoje queria secar-te nos meus braços
Forte lascivo e torpe
Mas depois fugirei com largos passos
Do teu infecto corpo.
Hoje sem seiva te amo e sofro e espero
Ária calor aroma
Oh, vem ser Messalina Eu serei Nero
E queimaremos Roma
Mas quando fores p’ra terra apodrecer
Oh graça sensual,
Nunca à vala dos pobres te irei ver
Pelo tempo Invernal
Lá não terás colar veludo arminhos
Luzidios vernizes
Tu que rias dos ramos aonde há ninhos
Chorarás com as raízes.
Não haverá sobre a terra uma flor pura
Que p’ra ti apanhe
Irei cuspir sobre a tua sepultura
Saliva de Champagne.
Irei um dia com Marie la Rife
Musa do macadam
Dançar sobre o pó do teu esquife
Os solos do cancan
E isto será antes que o vento esgalhe
E a triste chuva escorche
O tronco em que diz na mata de Versalhes
Carlos e Rigolboche.
Eu que ainda te amo ó pálida canalha,
Que sou gentil e bom,
Eu mesmo irei vestir-te uma mortalha
Talhada à Benoiton
Carlos Fradique Mendes (i.e. Eça de Queirós), 1869. A publicar em A correspondência de Fradique Mendes, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Junho de 2013 (Edição Crítica de Carlos Reis, Irene Fialho e Maria João Simões)
Contra as condições de trabalho dos Colonos Chineses
Colonos Chineses trabalhando numa plantação de cana de açúcar em Cuba
«Os colonos trabalham desde a alva (4 ou 5 da manhã) até Avé-Maria (7 ou 8 da tarde) tendo um descanso no meio do dia de 2 horas: mas na força dos trabalhos há engenhos em que o colono trabalha das 4 da manhã às 11 da noite! O castigo ordinário é o cepo - e às vezes as algemas - com as quais todavia - trabalham! (...) Assim é, Exm.º Sr., que em todos os exemplos da servidão humana - eu não conheço - a não ser o fellah no Egipto e na Núbia - ninguém mais infeliz que o coollie. E se a justiça não é uma mera categoria de razão - a condição dos colonos na América central não é compatível com a dignidade desta época.» (Carta ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros João Andrade Corvo, Havana, 17 de Maio de 1873)
Contra as condições de transporte dos imigrantes Chineses
Barco com carregamento de imigrantes Chineses
«Se atendermos agora às condições mesmas da sua existência só há motivos de condenação. Em primeiro lugar - apesar do Regulamento de Macau - o transporte dos coollies não tem boas condições. (...) a maior parte das vezes são transportados com um rebanho sofredor (...) Os jornais costumam anunciar os preços dos colonos, como uma mercadoria. E assim "vendido", o colono entra nas misérias dos Engenhos.» (Carta ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros João Andrade Corvo, 17 de Maio de 1873)
Protector dos colonos Chineses em Cuba
Chineses trabalhando em regime de servidão
«O aspecto que no começo deste ano apresentava a existência e condição dos colonos asiáticos era verdadeiramente desgraçado: mais de oitenta mil colonos, sem protecção e sem direitos, estavam - pelo facto de uma legislação tirânica - abandonados à exploração dos proprietários, à arbitrariedade das autoridades, às extorsões da polícia e às exigências dos Ayuntamientos. O Consulado de Portugal, apesar do seu zelo, não podia modificar este estado de injustiça: ainda que o Regulamento de Emigração do Governo de Macau tenha posto sob a protecção do consulado todos os colonos saídos por Macau (...) hoje estas condições começam lentamente a modificar-se e em muitos casos reclamações dos cônsules de ordem administrativa ou política têm sido atendidas.» (Carta ao Ministro e Secretário dos Negócios Estrangeiros João Andrade Corvo, Havana, 17 de Maio, 1873)
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