quinta-feira, 4 de julho de 2013

O homem moderno





«Já nestas idades modernas, há apenas seiscentos anos, quando não havia esta porção de saber e esta porção de justiça - que teríamos nós sido, nós outros, Jornalistas, Críticos, Políticos, Ministros, Personagens - que teríamos nós sido, não possuindo decerto Castelo no monte, nem Abadia na planície - que teríamos nós sido? - Vilões. Sim, vilões. Vilões hirsutos e bestiais, embrulhados em trapos de estamenha, nutridos de ervas meio-cruas, encafuados em tocas fumarentas, tremendo do homem de armas, tremendo do homem de igreja, pagando para ambos, rezando por ambos, esmagados, vis, mudos, mal distintos do boi e do porco, com a Vida toda vazia de gozos e a Morte toda cheia de terrores, tendo por partilha neste mundo o opróbrio e a forca, e no outro o Demónio com o seu grande espeto em brasa.
Mas distribuiu-se uma pouca de justiça, derramou-se um pouco de saber. E hoje, sem medo dos tiranos e sem medo dos demónios, protegidos pelos nossos Códigos e esclarecidos pelos nossos Compêndios - ah! Bacharéis maganões, como nós falamos de alto!»
("A Europa", 1888, em «Almanaques e outros dispersos», Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011)


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