domingo, 25 de maio de 2014

AS ELEIÇÕES E A IMPRENSA


«As eleições foram daí a três semanas.  O Ministério teve uma Maioria compacta, sólida, homogénea.  Os jornais da Oposição afirmaram - que como corrupção, tricas, violências, peitas, influências obscenas, estas eleições não só seguiam a tradição obsoleta dos Cabrais, mas ofereciam, a evidência  dolorosa da decadência social.  O Estandarte disse - «é, imenso como torpeza: nós aplaudimos; porque um ministério, que assim procede, inspira ipso facto um nojo genérico; este governo não há-de cair, porque não é um edifício: hão-de tirá-lo com benzina, porque é uma nódoa.»
            O Progresso Social afirmou: «somos o escárnio da Europa!»
            A Nacionalidade disse, com chiste: «é averiguado que a maior parte das urnas
tinha fundos falsos; nada admira o expediente, vindo dum ministério de pelotiqueiros» - aludindo malignamente, ao Ministro das Obras Públicas, cuja perícia, em fazer habilidades com cartas era geralmente estimada, e muito apreciada na Corte.
            Mas o Globo, jornal do Governo teve uma «saída» resplandecente: «O Estandarte, jornal dos Bexigosos, escreve, no seu artigo de ontem: “o Governo não há-de cair porque não é um edifício, hão-de tirá-lo com benzina porque é uma nódoa.”  Este plagiato é torpe: aquela frase foi escrita por nós, ipsis verbis, no n.º 1214 deste jornal, quando os Bexigosos, elegeram a Câmara passada!»

            Ambos os partidos se consideravam reciprocamente uma nódoa - e se ameaçavam com benzina!  Ah!  Quando se compenetrará a imprensa da elevação do Sacerdócio?» in O Conde de Abranhos, 1879.

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