Rigolboche, a dançarina de Cancan
Tu serás esqueleto e podridão
Ó Branca, a Rigolboche
Ó Branca, a Rigolboche
Exala as febres e infecção,
Oh flor vil do deboche.
Hoje tens pedrarias
e vernizes,
És brancura de cama
Pois serás pasto a vermes e raízes
Sujo lírio da lama.
Hoje és luz e cristal opala e sereia
E branca flor de carne
Pois serás podre suja infecta e feia
E da vil cor do marme.
Repara bem no pó que tu pisares
Nas corridas d’Epson
Tal tu serás cetim dos boulevards
Ó Vénus Benoiton
Hoje queria secar-te nos meus braços
Forte lascivo e torpe
Mas depois fugirei com largos passos
Do teu infecto corpo.
Hoje sem seiva te amo e sofro e espero
Ária calor aroma
Oh, vem ser Messalina Eu serei Nero
E queimaremos Roma
Mas quando fores p’ra terra apodrecer
Oh graça sensual,
Nunca à vala dos pobres te irei ver
Pelo tempo Invernal
Lá não terás colar veludo arminhos
Luzidios vernizes
Tu que rias dos ramos aonde há ninhos
Chorarás com as raízes.
Não haverá sobre a terra uma flor pura
Que p’ra ti apanhe
Irei cuspir sobre a tua sepultura
Saliva de Champagne.
Irei um dia com Marie la Rife
Musa do macadam
Dançar sobre o pó do teu esquife
Os solos do cancan
E isto será antes que o vento esgalhe
E a triste chuva escorche
O tronco em que diz na mata de Versalhes
Carlos e Rigolboche.
Eu que ainda te amo ó pálida canalha,
Que sou gentil e bom,
Eu mesmo irei vestir-te uma mortalha
Talhada à Benoiton
Carlos Fradique Mendes (i.e. Eça de Queirós), 1869. A publicar em A correspondência de Fradique Mendes, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Junho de 2013 (Edição Crítica de Carlos Reis, Irene Fialho e Maria João Simões)
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