segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Imprensa


Eça de Queirós ca. 1870


«Não tem um fim, não persegue a realização de uma ideia, não tem uma vontade pertinaz e lógica: vive do acaso, flutuante, cheia de palavras, ora especulando com o que o espírito público tem de mais trivial, de mais preguiçoso e rotineiro, outras vezes com o que ele tem de mais nobre, com o elemento revolucionário que existe no fundo de todas as consciências. A sua ignorância é deplorável: não conhece os movimentos modernos nem na política, nem na ciência, nem a economia. Vive longe do rumor fecundo das ideias, dos sistemas, isolada no culto dos velhos provérbios idiotas.
As altas questões nacionais, não as compreende, não as conhece, ou apenas conhece as palavras, mas ignora as coisas, as suas aplicações e as suas relações. Não levanta uma questão de ideias, uma questão de filosofia política ou de história; as suas questões são de indivíduos, de nomes (...) e ao fim dum ano um jornal é uma colecção de questões de família - impressas.» 
em «Palavras sobre o Jornalismo Constitucional», 1870 (publicado por Irene Fialho em Almanaques e outros dispersos, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011.)

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